EPISTOLA  DE ROMANOS

   Roma : Roma é uma cidade localizada na Península Itálica, às margens do Rio Tibre, sobre sete colinas: Palatino, Aventino, Campidoglio (ou Capitólio), Quirinale, Viminale, Esquilino e Celio.. Segundo a lenda, foi fundada em 753 a.C, por dois irmãos, Rômulo e Remo, que teriam sido criados por uma loba. Ainda segundo a lenda, Rômulo matou Remo e se tornou o primeiro rei de Roma.

   Roma tornou-se uma República em 509 a.C e passou a conquistar diversos territórios em volta do Mar Mediterrâneo. No século I a.C, Roma tornou-se a capital do recém fundado Império Romano, sendo César Augusto, filho de Júlio César, o primeiro imperador. Foi nesse contexto histórico, quando César Augusto era imperador, que Jesus nasceu (Lc 2.1).

   Na época do Novo Testamento, Roma ocupava um lugar central em toda a sociedade ao redor do Mediterrâneo. Havia estradas por todo o Império Romano que ligavam as cidades a Roma, facilitando o comércio e a migração de pessoas. A população da cidade era de cerca de 1.200.000 pessoas, sendo a metade composta por escravos e tendo muitas pessoas livres vivendo de esmolas. Havia muito luxo na cidade, mas também muita devassidão moral e muitos crimes. A educação era reservada para poucos, entre os quais não se encontravam os plebeus.

   A economia de Roma era bastante diversificada, possibilitando o comércio de diversos produtos: jóias, linho, seda, madeira, móveis, especiarias, vinho, farinha, trigo, gado, etc. Escravos também eram comercializados, constituindo-se grande fonte de lucro.

   A religião de Roma consistia em um politeísmo baseado numa mitologia muito semelhante à grega, com vários deuses antropomórficos(O antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a animais, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Nesse sentido, toda a mitologia grega) , cada um deles exercendo determinada função, e tendo Zeus como o deus supremo. Porém, além desses deuses mitológicos, a religião romana também se misturava com a política, adorando o Imperador e considerando-o deus e senhor. Por isso, quando os cristãos diziam que Jesus é o Senhor e recusavam-se a dizer o mesmo de César, isso era visto com maus olhos pelos romanos e considerado não apenas como declaração de uma crença religiosa, mas principalmente como insubordinação política.

   Deus começou a atuar de forma especial em Roma quando os primeiros judeus começaram a migrar para lá, desde que a Palestina passou a fazer parte do Império Romano, e essa atuação foi ainda maior quando os cristãos judeus chegaram à cidade. Não se sabe ao certo como o Evangelho chegou a Roma, mas é muito provável que, entre os judeus que visitaram Jerusalém no Pentecostes e se converteram com a pregação de Pedro, havia alguns que eram de Roma, tendo levado o Evangelho para a cidade quando retornaram. O que se sabe é que já em 49 d.C. havia cristãos em Roma, pois o historiador Suetônio disse que, nessa data, Cláudio expulsou judeus de Roma por terem criado tumulto “por causa de um tal Cresto” (provável referência a Cristo), entre os quais estavam Áquila e Priscila (At 18.2). Assim, em 56 d.C., Paulo escreveu uma carta à igreja de Roma, que já estava bem estabelecida, antes da atuação de qualquer apóstolo (Rm 1.8-13), e sendo composta por judeus e gentios (Rm 1.16).

   Paulo esteve preso em Roma durante dois anos, cerca de 60-62 d.C., morando em uma casa alugada com um soldado, onde teve a oportunidade de pregar aos judeus (At 28.16-31) e de onde escreveu as chamadas cartas da prisão: Filemon, Colossenses, Efésios e Filipenses. Segundo a tradição, Pedro também esteve em Roma, o que parece ser confirmado por sua menção da Babilônia (provável Roma) em sua Primeira Carta (1Pe 5.13). Assim, apesar de não ter sido fundada por apóstolos, a igreja de Roma pôde contar com o trabalho direto de Pedro e Paulo por alguns anos. Ainda segundo a tradição, Pedro e Paulo foram martirizados em Roma, sob Nero, cerca de 67 ou 68 d.C.

   Devido à sua grande influência por ser capital do império e devido à atuação direta de Pedro e Paulo, Roma passou a abrigar uma das igrejas mais importantes da cristandade. Os bispos de Roma passaram a ter uma autoridade cada vez maior sobre as igrejas de outras cidades, autoridade que cresceu após a legalização do Cristianismo por Constantino, no século IV. Finalmente, o papado apareceu em sua forma plenamente desenvolvida no século V e VI, quando o Império Romano caiu e o bispo de Roma surgiu como um substituto religioso e político do antigo imperador romano.

   Porém, a mesma Roma que abrigou essa igreja tão importante e influente, também foi uma forte opositora do Cristianismo nos primeiros séculos. Nero perseguiu muitos cristãos, matando-os cruelmente em cruzes e até mesmo utilizando-se deles como tochas humanas. Vários outros imperadores perseguiram os cristãos, lançando-os às feras no Coliseu. Essas cruéis perseguições de Roma obrigaram os cristãos a se refugiar em abrigos subterrâneos, que eram utilizados como locais de culto e cemitérios, e que foram chamados de catacumbas.

   Roma também foi a responsável pela destruição de Jerusalém e do templo em 70 d.C., através do general Tito, que viria a se tornar imperador, cumprindo assim a profecia de Jesus em Lucas 21.

   Finalmente, por conta dos seus terríveis pecados, não só de perseguição contra o povo de Deus, mas também de luxúria, a perspectiva bíblica sobre Roma é bastante negativa. João a apresenta como uma prostituta em Apocalipse 17, chamando-a de “Babilônia, mãe das meretrizes e das abominações da terra”. Ela está assentada sobre a besta com sete cabeças, cujas cabeças são representações dos montes sobre os quais Roma está edificada (Ap 17.9). Assim, o seu destino é a destruição, profetizada em Apocalipse 18, e que de fato ocorreu em 476 d.C.

    BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA

                Roma e as religiões


   A Igreja Católica nasceu no dia de Pentecostes. Nos primeiros séculos foi perseguida, desde os anos 60, pelo Imperador Nero, até 313, quando o Imperador Constantino liberou o culto a Deus. Houve muitos mártires por conta dessa perseguição. Mártir é a pessoa que prefere ser morta a adorar outros deuses, ou a renegar sua própria religião. Em At 7,1-8,3, vemos a morte do mártir Santo Estêvão, além de um resumo da história do povo de Deus, feito pelo próprio Estêvão.

   Com a liberdade concedida por Constantino, a Igreja pôde sair das catacumbas (cemitérios sob a terra, onde os católicos escondiam-se para celebrarem a Santa Missa ou fazerem suas reuniões) e os fiéis começaram a liturgia nas igrejas, publicamente, sendo as primeiras igrejas feitas com o aproveitamento dos palácios doados pelo Imperador Constantino, em Roma. Com a liberdade e os títulos de honra dados pelo imperador aos bispôs, a Igreja se aburguesou bastante e entrou desse modo na Idade Média (período da História que vai desde o ano 476, ano em que caiu o último imperador romano, até o ano 1453, a queda de Constantinopla ou 1492, a descoberta da América).

   Com os feudos da Idade Média (cidades cercadas por muros), apareceram as paróquias. Em 1054 a Igreja do Oriente (Constantinopla) separou-se da do Ocidente (Roma), devido à politicagem dos responsáveis pela Igreja de então.

   Algumas das Igrejas do Oriente retornaram à Igreja de Roma (os Ucranianos, por exemplo, em 1596), mas guardaram os ritos e costumes adquiridos no correr dos séculos de separação (por exemplo, a ordenação de homens casados para padres, costume que permanece até hoje. Somente os bispos precisam ser celibatários). Formam a Igreja Católica de Rito Oriental.

   Nesses séculos, do ano 1000 ao ano 1500, houve um esfriamento na fé dos chefes da Igreja, ou seja, foram esquecendo-se da missão de pregar o Evangelho, foram tornando-se políticos, condes, barões, reis, duques.

   Buscavam muito dinheiro para construir grandes igrejas e palácios, manter seus exércitos e o pessoal de sua corte (bispos, papas, cónegos, abades, padres e religiosos).

   No século XII surgiu um grande movimento de renovação: cristãos simples preocuparam-se em seguir o Evangelho. Muitos abandonaram a riqueza e se dedicaram aos pobres. Ex.: São Francisco de Assis, Santa Clara e São Domingos. Mais tarde: São Bernardo, Santo Tomás, Santa Catarina de Sena, Santo Antonio.

   Em 1517 a Igreja dividiu-se novamente e surgiu a reforma de Lutero, que acabou fundando outra Igreja, a Luterana. Foi seguido por Zwínglio, Calvino, que fundaram as Igrejas evangélicas.

   Essas divisões aconteceram muitas vezes por culpa de homens de ambas as partes, ou seja, tanto da Igreja Católica como das que se separaram.

   Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser tidos como culpados do pecado da separação, e a Igreja Católica os abraça com fraterna reverência e amor. Justificados pela fé recebida no Batismo, estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos, e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor.

   O Espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Entretanto, é pecado muito grave o católico mudar de religião.

   A seguir, damos uma lista de religiões e o ano de sua fundação: Igreja Católica Apostólica Romana (Dia de Pentecostes após a Ressurreição de Jesus); Nestorianos e Monofisitas (431 e 451); Orientais ortodoxos (1054); Luterana (1517); Calvinismo (1528/1555); Metodistas (1739); Anglicanismo (1559); Congregacionalistas (1580/92); Batistas (1612); Adventistas (1843); Assembleia de Deus (1900/1914); Congregação Cristã do Brasil (1910); Igreja do Evangelho Quadrangular (ou Cruzada Nacional de Evangelização): sua fundadora morreu em 1944; Igreja Universal do Reino de Deus (1977); Árvore da Vida (1980/90); Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno - 1952); Mormons (1830); Testemunhas de Jeová (1874); Induísmo (2500 antes de Cristo já existia, não se sabe a época precisa da origem); Budismo (400 antes de Cristo nascer); Igreja Messiânica Johrei (1926); Seicho-No-Iê (1930); Perfect Lyberty (1946); Moonismo (Associação para a Unificação do Cristianismo Mundial - AUCM - 1954); Espiritismo (1848); Umbanda (não há data de fundação); Racionalismo Cristão (1910/11); Legião da Boa Vontade (Década de 50); Sociedades Esotéricas (em todos os tempos houve esse tipo de agremiação).

Já nos séc. II e III já se conhecia a famosa gnose ou gnosticismo. As Fraternidades Rosa-Cruz apareceram no séc. XVII. A Maçonaria, no séc. XVIII; Universo em Desencanto (anos 70); Profecias de Trigueirinho (1987); Vale do Amanhecer (1969); Ordem dos 49 ou Ação Mental Interplanetária (1977); Santo Daime (1945); Sociedade Teosófica (1875); Rosa-Cruz (séc. XVII); Nova Era (década de 70); Cientologia (1954).

   Foi por ocasião da revolta de Lutero, motivada pelo clima intenso e pesado resultante, que a Igreja deu uma chacoalhada em tudo, com o Concílio de Trento, de 1545 a 1563, na Itália. Toda a vida da Igreja foi reorganizada, inclusive com as Missões. Apareceram outras congregações religiosas, como os Jesuítas. Os padres passaram a ter uma formação mais séria e severa nos seminários.

   Após a descoberta do Brasil, em 1500, vieram para cá os Jesuítas. Em 1618 os primeiros índios receberam a primeira comunhão.

   A Igreja não sofreu muitas mudanças por todos esses séculos. Somente nesse século XX, de 1962 a 1965, com o famoso Concílio Vaticano II, é que houve outra grande mudança na Igreja: a Missa, que era celebrada somente em Latim, passou a ser celebrada na língua própria de cada país; o padre, que ficava de costas para o povo, passou a ficar de frente. A Bíblia passou a ser mais estudada, com traduções mais fiéis aos originais, possibilitando maior acesso aos leigos. Até então, a única versão conhecida era a Vulgata, de São Jerônimo, do séc. IV.

   A liturgia renovou-se completamente, com novas orações eucarísticas e a possibilidade de serem usados outros instrumentos, além do órgão e do harmônio.

   Em 1968 houve um encontro muito importante em Medellín, na Colômbia, onde a Igreja chegou mais perto dos pobres e dos marginalizados. Houve outro encontro desse tipo em 1979, em Puebla, no México.

   Nos anos 70 apareceu a Renovação Carismática Católica (RCC), que está mudando a feição da Igreja, de um jeitão muito sério para uma forma mais alegre nas celebrações.

   Os movimentos também estão aí a pleno vapor: Legião de Maria, Emaús, Cursilho, Vicentinos, ECC, Focolares, Irmandades antigas que reapareceram, como a Irmandade de São Benedito e o Apostolado da Oração etc.

Roma nos tempos de Paulo:                       um breve panorama histórico
   Acredita-se que a carta aos romanos foi escrita por volta de 58 A.D. (Ryrie, 1994). Esta importante epístola, portanto, encontra seus primeiros destinatários vivendo durante o reinado de Nero, imperador entre 54 e 68 A.D. (Encyclopaedia Britannica, 2014). Embora a reconstrução de um passado tão distante não seja tarefa simples, e isenta de possíveis interpretações incorretas, interessa-nos explorar sucintamente alguns elementos que provavelmente constituíram o contexto social, político, econômico, religioso e moral da capital do império romano neste peíodo histórico. Trata-se de uma viagem muito importante porque, afinal de contas, a igreja que nasce em Roma adquire influência significativa, que peregrina pelos séculos e chega até os dias de hoje.
   Segundo o historiador americano James S. Jeffers (1991), a Roma do primeiro século certamente impressionava seus visitantes. Era a capital do mundo daqueles tempos. Suntuosos edifícios públicos com pórticos de mármore, belíssimas mansões particulares, teatros, banhos públicos e um comércio intenso de mercadorias vindas de todas as partes, movimentado freneticamente por uma população de mais de um milhão de habitantes1 que anunciavam uma riqueza acumulada até então impensada. Todavia, mesmo que o conjunto de prédios públicos e mansões particulares representassem mais da metade da área construída, a maioria da população era composta por escravos e estrangeiros livres, ambos com baixo status social, tornando a cidade um marco não apenas de opulência, mas de desigualdade social. Grande parte da população vivia em pequenas casas de um ou dois cômodos ou apartamentos conjugados com lojas comerciais, comumente escuros e empoeirados, frios no inverno, muito quentes no verão. Sem água corrente, diferentemente das instalações mais ricas, grande parte dos moradores caminhavam por ruas movimentadas, bem estreitas e cobertas de grafiti2, em busca de água nas fontes públicas. Uma família romana típica de não escravos, levantava-se logo pela manhã e se dirige às lojas onde trabalham, levando suas crianças consigo, retornam apenas no final do dia - tomando o devido cuidado para não voltarem muito tarde na tentativa de minimizar riscos de assaltos, muito comuns naquele tempo e em uma cidade que não dispunha de iluminação noturna - explica Jeffers. Embora o Latim fosse a língua oficial do império, o grego era utilizado em transações comerciais e comumente falado por todos. Esta era a língua dos primeiros cristãos que ali viviam.
   Os cidadãos romanos gozavam de status social mais privilegiado que o dos estrangeiros, permitindo-lhes acesso a um tratamento especial por parte do Estado. Se fossem vítimas de algum crime, por exemplo, a situação poderia ser oficialmente investigada, ao contrário dos estrangeiros, responsáveis por sua própria segurança. Além disso, os cidadãos não podiam ser condenados sem julgamento oficial, nem estavam sujeitos a execuções sumárias, como a crucificação. Este era o caso de Paulo, que possuia cidadania romana desde seu nascimento (cf. Atos 22:27-29).
   No que tangge os padrões morais, casos de promiscuidade e perversão sexual eram comuns. Costumes praticados por Nero, por exemplo, foram registrados pelo historiador romano Suetônio e nos ajudam a compreender melhor algumas exortações registradas na carta de Paulo:
"Sem falar do commercio infame com os homens livres e seus amores adúlteros, violou uma vestal3chamada Rubria. Esteve quasi arriscado a casar com a sua liberta Actéa, e alliciou homens consulares para affirmarem que ella era de nascimento real.            Tornou eunuco um rapaz, do nome de Sporo, pretendeu transformal-o em mulher, e esposou-o com o apparato mais solemne. [...] Mandou vestir este Sporo como uma imperatriz e acompanhou-o em liteira nas assembleias, nos mercados da Grécia e nos bairros de Roma, dando-lhe beijos de quando em quando. Está demonstrado que elle quiz gozar de sua mãe […] assegura-se mesmo que todas as vezes que andou em liteira com a mãe, se percebeu sobre as vestes vestígios de profanação. Prostituia-se de forma, que não havia um só dos seus membros que não estivesse maculado. Imaginou, como uma nova espécie de jogo, cobrir-se com uma pelle de animal, e lançarse d'uma galeria sobre homens e mulheres ligados a postes e entregues em presa aos seu desejos, e quando os tinha satisfeitos, elle próprio servia de presa ao seu liberto Doriphoro, que esposou, assim como Sporo; fingiu mesmo com elle os gritos que a dôr arranca á virgindade arrebatada. Sei por varias pessoas que Nero estava persuadido que homem algum era casto em nenhuma parte do corpo, mas que na maior parte sabiam dissimular os seus vicios; assim, perdoava a todos que confessassem a sua impureza" (Suetônio, 1923, pp. p.171–2).
   Os primeiros membros da igreja de Roma pertenciam provavelmente à classe de estrangeiros livres, escravos e cidadãos de origem escrava, explica Jeffers. Embora toda população, em geral, compartilhasse da cultura helênica, os primeiros cristãos romanos de origem estrangeira não encontravam honra ou identidade social naquele contexto, assim, "como outros não-romanos, eles eram constantemente confrontados com as diferenças entre eles e a elite romana em termos de linguagem, educação, riqueza, poder e honra" (Jeffers, 1991, pp. p.139–143,tradução nossa). Neste sentido, eram percebidos com descredibilidade pela elite imperial. De acordo com Suetônio, por exemplo, Nero "Maltratou os christãos, espécie de homens entregues ás superstições e aos sortilégios." (Suetônio, 1923, p. p.165,tradução nossa).
   Já os judeus romanos, gozavam privilégios especiais, provavelmente porque apoiaram a acensão de Júlio César ao poder. Eram dispensados do serviço militar e livres para reunirem-se em seu templo, cobrarem taxas e não eram obrigados a adorar o imperador, as sinagogas eram consideradas associações religiosas reconhecidas oficialmente. Segundo Jeffers, acredita-se que no primeiro século cerca de 40 a 50 mil judeus viviam em Roma, viviam com poucos recursos e, como os demais estrangeiros, não eram vistos com bons olhos pela elite (Jeffers, 1991, pp. p.348–350).
   Quanto aos cristãos, mesmo aqueles oriundos do judaísmo, não gozavam dos mesmos privilégios. Enquanto Judeus se reuniam nas sinagogas, eles se encontravam clandestinamente em igrejas nas casas. Por este motivo, eles provavelmente se reuniram por meio de associações voluntárias, muito comuns em Roma, explica Jeffers. Certamente, possuíam pouca ou nenhuma liderança centralizada ou representação hierárquica oficial, mas tais associações forneciam-lhes senso de identidade e pertencimento, além de proporcionar apoio mútuo.
   Acredita-se que Paulo tenha chegado em Roma por volta de 60 A.D. e, a julgar pelo rico conteúdo sistemático da carta escrita para os romanos, tinha por objetivo auxiliar o processo de organização da igreja que se reunia ali. Foi recebido pelos cristãos romanos, mas chegou na condição de prisioneiro do império, embora tenha recebido liberdade para ensinar e receber visitas (Atos 28:30-31). Quatro anos depois os cristãos foram culpados por Nero de terem criminosamente incendiado Roma, inicia-se uma dura perseguição. De acordo com Suetônio, Nero "Maltratou os christãos, espécie de homens entregues ás superstições e aos sortilégios." (Suetônio, 1923, p. p.165). Tacitus, importante historiador romano, registrou o contexto:
"Mas todos os esforços humanos, todos os caros presentes do imperador e as propiciações aos deuses, não baniram a crença sinistra de que o incêndio foi resultado de uma ordem. Consequentemente, para se livrar das consequências Nero suprimiu a culpa e infligiu as mais terríveis torturas contra uma classe odiada por suas abominações, chamada pelo povo de cristãos. Christus, de quem origina-se o nome, sofreu a penalidade extrema durante o reinado de Tibério, nas mãos de um de nossos procuradores, Pontius Pilatus. Assim, preparada para o momento, uma superstição perniciosa mais uma vez quebrou-se não apenas na Judéia , a primeira fonte do mal, mas também em Roma, onde todas as coisas horríveis e vergonhosas de todas as partes do mundo encontram seu centro e tornam-se populares. Primeiramente, foram presos todos os declarados culpados; em seguida, com base na informação obtida com estes, uma imensa multidão foi condenada, não tanto pelo crime de incendiar a cidade, mas pelo ódio contra a humanidade. Zombarias de todo tipo foram adicionada às suas mortes. Coberto com peles de animais, eles foram rasgados por cães e pereceram ou foram pregados a cruzes, ou foram condenados às chamas, queimados para servir como uma iluminação noturna após a luz do dia ter expirado" (Tacitus, 2000).
   Com o passar dos anos a igreja romana foi tomando forma. Há dois documentos importantes que nos ajudam a compreender melhor as transformações que ocorreram e o modo como o ensino dos apóstolos foi assimilado. O primeiro documento, é uma carta escrita por um cristão chamado Clemente por volta do ano 90 A.D. A igreja que reunia-se na casa de Clemente gozava de situação social e econômica privilegiada, acredita-se que sua congregação era formada por cidadãos romanos ex-escravos. Clemente era um homem bem educado, Os escravos que serviam à burocracia imperial eram treinados por meio de um cursus honorum, no qual aprendiam latim, grego e matemática. Ele chegou a escrever uma carta aos cristãos da igreja de Corinto, documento que ficou conhecido como 1 Clemente. Ele é considerado, atualmente, pela igreja católica romana como o terceiro papa a partir de Pedro, o apóstolo. Os cristãos que pertenciam ao grupo de Clemente consideravam-se "bons cidadãos de um Estado que havia trazido concórdia ao mundo mediterrâneo e provido um modelo para a igreja. O exército romano, por exemplo, apresentava um modelo de disciplina, ordem e uma inquestionável obediência que resultou no estabelecimento e manutenção da Pax Romana" (Jeffers, 1991, pp. p.1593–5, tradução nossa).
   O outro documento da época é chamado de O Pastor de Hermas, escrito entre 88 e 97 A.D. Ele apresenta características que provavelmente representam a visão de mundo da maioria dos cristãos romanos de origem social menos privilegiada. Por serem mais pobres e, por isso, mais afastados da ideologia da elite romana, apara eles a visão exposta em 1 Clemente constituía um comprometimento da verdadeira piedade cristã com elementos da sociedade imperial romana. Segundo o autor de Hermas, explica Jeffers, ele reconhece o sistema de patronagem romano, mas defende que os pobres devem mostrar gratidão a Deus, não aos seus patrões. Segundo Jeffers, Hermas via o Estado romano como algo completamente diferente da prática cristã, por isso "virou a relação patrão-cliente de ponta a cabeça ao fazer dos pobres piedosos os verdadeiros guerreiros do cristianismo" (Jeffers, 1991, pp. p.1599–1603, tradução nossa).
   Nest sentido, Jeffers argumenta que quanto mais alto o status social dos cristãos romanos, mais estavam propensos a adotar os valores da sociedade romana, na qual estavam inseridos. Observa-se, portanto, uma inclinação da igreja romana, principalmente aquela composta por membros mais elitizados, de transformar o modelo de koinonia proposto por Paulo - fundamentado em relações comunitáias baseadas no amor e no serviço a Deus e ao próximo - em um sistema social hierárquico semelhante ao da elite social romana. Nas palavras de Jefers, "a congregação de Clemente havia deixado de se assemelhar a uma seita na medida em que introduziu uma divisão entre leigos e clérigos, enfatizando deveres oficiais ao invés de espontaneidade, estava inclinada a se identificar com a sociedade maior e recusou a definir-se como um grupo em protesto" (Jeffers, 1991, pp. p.2243–2244, tradução nossa). Com o passar do tempo, a perspectiva do grupo de Clemente prevaleceu, talvez porque sua educação privilegiada, com relação à maioria dos demais cristãos, transformou-os em uma espécie de elite intelectual cristã. No final das contas, esse foi o modelo que mais influenciou a igreja romana e, por extensão, toda a cristandade até os dias atuais.



              Ficha técnica
Autor: embora exista alguma discussão em relação à autoria dessa epístola, é amplamente aceito que foi o Apóstolo Paulo o autor da Carta aos Romanos.

Local: praticamente não há dúvida quanto à origem geográfica dessa epístola. A melhor interpretação sobre esse ponto defende que Paulo escreveu essa carta durante o tempo em que ficou temporariamente na cidade de Corinto, enquanto estava arrecadando junto às igrejas gentílicas as ofertas que seriam levadas para os judeus cristãos pobres de Jerusalém.

Data: a data mais provável fica em torno de 57 e 59 d.C., já que esse período corresponde à data aproximada da visita do Apóstolo a Jerusalém. Alguns sugerem uma data mais recuada, 55 d.C., mas essa possibilidade é menos provável.

Destinatários: o versículo 7 do capítulo 1 deixa claro que a epístola foi escrita aos cristãos em Roma. A discussão fica por conta da tentativa em se determinar quem seriam esses cristãos. É certo de que a igreja em Roma era formada por judeus e gentios, porém alguns estudiosos defendem que a maioria era formada por judeus, enquanto outros defendem que a maioria era formada por gentios. Sobre isso, o mais importante é que a epístola foi escrita, tanto para os judeus e gentios da época, quanto para todos os cristãos de todas as épocas.

Formato : 16 capítulos , 433 versículos

Proposito implícito : Oferecer um resumo completo das grandes doutrinas da salvação com suas implicações prática para a igreja ; preparar o caminho para uma visita pessoal a Roma ; a estabelecer as bases para uma junta missionária para a Espanha .

Perspectiva do autor : Há muito tempo incapaz de fazer uma visita missionária , Paulo se apresenta aos romanos escrevendo-lhes um relato completo de suas teologia madura , Ele escreve com uma profunda aflição espiritual pelo judeus que ainda não vieram a Cristo , e também pelos gentios , que buscam um entendimento mais profundo do evangelho .

Público-Alvo implícito : O resplendor de seu fundamentado argumento teológico ; o tema da justificação , a qual Deus requer para a salvação e oferece como um dom por meio da fé em seu filho ; uma dupla preocupação dos judeus e dos gentios para lidar com as tradições religiosas e espirituais , tendo em vista a unidade na igreja .

Características especiais : A perspectiva bíblica em clássica duvidas teológicas , como : E aqueles que nunca ouviram ? ( Eles estão sob  a ira de Deus .) Como pode pecados culpados serem justos diante de um Deus santo ? ( Cristo lhes deu o presente da justificação .) Por que os cristões ainda pecam ? ( A natureza pecaminosa ainda esta lutando contra o Espirito Santo .) Por que alguns pessoas são salvas e outras não ? ( A soberania de Deus e a graça fazem isso. ) Há também a técnica  retórica conhecida como critica pungente , em que o autor levanta objeções e depois as responde para seus próprios argumentos .

Palavras e frases centrais

   Como um trabalho de teologia sistemática , Romanos usa umas boa quantidade de vocabulário técnico . Aqui estão alguns dos termos mais importantes para saber :

*A justiça que Deus requer suas leis e dá pela sua graça .
* Declarar ( ou contar , calcular , imputar ) , que é um termo financeiro utilizado para descrever a justificação que é creditado ao cristão pela fé .
* A propiciação um importante termo teológico usado em algumas traduções de romanos 3.25 para descrever Deus se desviando da própria ira por meio do sacrifício de seu filho.
* A lei , que é usado em mais de um sentido : ás vezes , refere-se aos justos padrões de Deus ( principalmente revelado no antigo testamento) e ,as vezes as principio do bem ou do mal que rege a vida do ser humano ( também traduzido por poder )
*A fé , que nos une a Cristo e capacita-nos a receber sua justiça .
*A natureza pecaminosa , ou carne , que refere á natureza humana decaída em sua frequência e depravação .

   I. Todos pecaram 1.18-3.20
II. Justificação apenas pela fé 3.21-5.21
III. Praticando Justiça na vida Cristã 6.1-8.39
IV. Deus e Israel 9.1-11.36
V. Aplicações práticas 12.1-15.13
VI. A própria situação de Paulo 15.14-33
VII. Recomendações pessoais 16.1-24
VIII. Bênção 16.25-27

Prof. Guilherme Lopes